domingo, 21 de dezembro de 2025

Contribuição À História Da Educação Petropolitana: Estado, Nacionalização E Sistema Educacional

 


Contribuição À História Da Educação Petropolitana: Estado, Nacionalização E Sistema Educacional


Oazinguito Ferreira da Silveira Filho


15/11/2010

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digitação utilizada para inclusão no site:

25/01/2010


Ensaio escrito em 2002


CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PETROPOLITANA: ESTADO, NACIONALIZAÇÃO E SISTEMA EDUCACIONAL

Oazinguito Ferreira da Silveira Filho

 

CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PETROPOLITANA: ESTADO, NACIONALIZAÇÃO E SISTEMA EDUCACIONAL

Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga


“…Não escapará, decerto, às luzes superiores de v. Exa. Quanta influencia isso (a criação de uma escola de primeiras letras) pode ter sobre os costumes, e quanto importa ir destruindo o uso exclusivo da linguagem alemã.”(Fernandes Pinheiro, Presidente da Província do Rio Grande do Sul, 1825, p.274, in Willens, Emilio, 1946, Brasiliana, INL/MEC)


Este fragmento de documento do então Presidente da Província do Rio Grande do Sul, espelhava o temor que os brasileiros possuíam já em 1825 pela presença do imigrante europeu, principalmente do alemão no território brasileiro. Uma rejeição clara ao processo de imigração que se iniciava em terra brasileira, principalmente em uma região onde não se acusava forte presença escravista, não estando portanto sujeita a lenta política de organização do processo de produção brasileira tendo por base a mão-de-obra do imigrante em detrimento da substituição do tradicional escravismo.

O assunto em discussão neste ensaio, não é somente a questão da “política de nacionalização” do ensino local, isto é, petropolitano, mas também a presença do Estado brasileiro na área de educação em Petrópolis no século XIX, assim como a questão da “pseudo” ameaça política que a imigração pudesse oferecer à integridade do Estado Imperial brasileiro ou de sua sociedade, possibilitando uma intervenção do Estado na questão educacional na região de colonização e imigração alemã em Petrópolis.

Outra questão que também será abordada é a presença do ensino privado e de suas possíveis características inovadoras, assim como de um projeto de ensino técnico gerado em uma espécie de cooperativa pelos colonos em Petrópolis.

INTRODUÇÃO

De um modo geral quando abordamos a história da educação observamos que a temática “intervenção” do Estado, ou como pode tecnicamente ser designada, “ingerência” nas questões da educação pública não é uma novidade histórica.

Lorenzo Luzuriaga já apontava sua presença desde o século XVI na Europa. Mas se compreendido precisamente como realmente uma ingerência do próprio Estado, neste caso os registros históricos podem ser mais precisamente avaliados a partir do século XVIII, sendo estes em sua maioria relacionados à evolução dos processos político-sociais no contexto da elaboração dos Estados Nacionais contemporâneos e na construção da instrução pública a partir da Revolução Francesa (Luzuriaga, 1959).

No Brasil, a origem do processo educacional repousa no ensino confessional “conversor” que foi desenvolvido pelos jesuítas. Porém, observamos que, a partir da segunda metade do século XVIII, o estado português (juridicamente estruturado pelas Ordenações Filipinas) realiza sua intervenção na educação, tendo por questão o “controle da sociedade colonial” e sendo sua base o estabelecimento do Alvará Régio de 1759 (28/06), que extingue todas as escolas e estabelece um novo regime.

“Os jesuítas[2] apoderados do ensino da mocidade em que infundiam superstição e prejuízos, e a quem regiam com religiosa disciplina, senhores por imediato influxo dos sentimentos do trono da administração nos tribunais e até no recinto doméstico dos particulares conservavam cuidadosamente o seu monopólio, e com muitos, e espalhados [colégios] no Reino e com grande número de criaturas suas [des]tinadas a perpetuar a escravidão científica[3] repeliam a ocorrência de outros mestres, e apenas em alguns pequenos lugares haviam clérigos, e seculares, que ensinavam com o agradecimento de seis vinténs por mês os de Gramática Latina, e de três vinténs os de ler, sendo porém igual a doutrina por que os mestres ensinavam o que nas mesmas escolas jesuíticas tinham aprendido. E vemos com tão débeis socorros, sobressair muitas vezes o Gênio Português o que lhe dá direito a perpétuo louvor.

[…]

Expulsar os jesuítas destina-se parte de suas causas, e rendimentos para o progresso das letras mas não tiveram aquela elevação, que se lhe devia. Conheceu o marquês de Pombal a necessidade de estabelecer Escolas Menores[4], e a este fim deu as providências da Lei de 28 de junho de 1759[5]. Nomeou a seis de julho por Diretor dos Estudos ao Principal Almeida, que deu as Instruções confirmadas por Alvará de 11 de janeiro de 1760 em que é contemplado o Ultramar com seus comissários mas havendo falta no pagamento dos mestres franqueava licença aos particulares pagos pelos discípulos, e não provia as cadeiras que vagavam.”

(Plano de renovação do ensino no Brasil elaborado por José Albano Fragoso, desembargador do Paço e deputado da Mesa de Consciência e Ordens, convocado pelo príncipe regente. Conjunto documental: Coleção de memórias e outros documentos sobre vários objetos

Notação: códice 807, vol. 20

Datas-limite: 1768-1869 – Arquivo Nacional)

Semelhante intervenção, narrado por José albano Fragoso, Estadista português, nascido em Lisboa, que se destacou como principal ministro no reinado de d. José I (1750-1777) , nada mais é, em verdade, que uma discussão política sobre a questão da ascendência do poder no território colonial. O Estado português não admitia o predomínio dos jesuítas e de sua influência na sociedade local, manipulando ideologicamente os coloniais (Novais, 1979).

Assumindo o controle da educação colonial, o poder real português reestrutura as modificações, estabelecendo primeiro a figura do “diretor dos estudos”, e, posteriormente à “reforma pombalina”, com o processo de emancipação brasileira, passa a formação de quadros administrativos nacionais na constituição de uma “nova” elite burocrática, que substituísse a administração lusitana enraizada no mesmo período colonialista.

O século XIX, para o mundo, foi o processo de “publicização e secularização” do ensino. No Brasil, a educação seguia sob a influência da religião, com respaldo constitucional fornecido pela aliança da Igreja com o “novíssimo” Estado brasileiro (Gallo, 1993). Em linhas gerais, a composição seguia a regulamentação do ensino estatal, deixando o sistema privado por sua própria conta.

Este “ensino estatal” estava dividido em duas esferas de administração: a primeira era a nacional, que se responsabilizava pelos níveis, tanto do primário como do secundário, na área da Corte, e também pelo nível superior por todo o país; e o segundo era o provincial, que respondia pelos níveis primário e secundário nas Províncias do Império, segundo Gallo.

Muitos pesquisadores desconhecem que o processo educacional oficial na região serrana de Petrópolis, não possui suas origens em estruturas confessionais, ou mesmo privadas, mas sim foi uma “ingerência” de base estatal. Isto ocorreu devido à preocupação do Estado, durante o Império, com a organização da educação em áreas de forte assentamento de imigrantes ou de colonização próximos à Corte, uma preocupação geopolítica do governo do Império e do governo da Província.

Fato que nos é desconhecido até o presente momento, e que se apresenta como processo corriqueiro nas demais regiões interiores do Brasil, são as comuns visitas às fazendas dos exigentes frades-mestres, ou tios letrados (Freire, 1936). Em nossa região serrana, principalmente na área da Fazenda do Córrego Seco e de tantas outras que compunham originalmente a citada região, não foram encontrados até o presente momento, documentos ou mesmo quaisquer cartas que citassem este procedimento, que é característico das origens do Brasil Colonial, na era dos seiscentos e setecentos, principalmente se recorrermos a estudos considerados clássicos locais, como os de Frei Estanislau (Schaette OFM, 1953).

Nem mesmo o nosso histórico Padre Correia com seu maravilhoso universo de produção artesanal-industrial de ferraduras ou agrícola (frutas), que abastecia toda a região das Minas e/ou da Baixada Fluminense, deixou documentos, ou ocorreram relatos de sua preocupação, a não ser com o do batismo de seus escravos.

REGISTRO OFICIAL

O primeiro registro data de 1840, mais precisamente para a região do Itamaraty, e foi de iniciativa pública do Império por parte do Visconde de Baependi, que autorizou (Rabaço, 1982), a criação de uma escola “de primeiras letras”, alfabetização em português para os filhos dos alemães trazidos por Koeler do Rio de Janeiro.

Uma iniciativa como de tantas outras que já se haviam estabelecido no sul do Brasil. Este fato era um indicador de que estes primeiros imigrantes chegavam de regiões rurais da Alemanha, em sua maioria vilarejos, sem qualquer assistência cultural, conforme a tradição predominante nas mesmas áreas ( Willens, 1946 ). Devemos observar que somente áreas urbanas alemães de comportamento mediano demográfico conheceram a educação pública de caráter estritamente religiosa e destinada ao povo em geral, com aulas ministradas em alemão, as chamadas escolas primárias de alfabetização para leitura da Bíblia. Esta seria uma educação pública que foi preconizada por Martinho Lutero, e de estrutura efervescente mente nacionalista. Segundo Luzuriaga, observamos que a instrução pública repousa no movimento da Reforma Protestante, que tem a escola como lugar da “guerra contra o demônio”. Porém, outros grupos de imigrantes ou colonos na região serrana, que chegaram, já eram alfabetizados e exigiam escolas para seus filhos (Relatórios coloniais da Província).

Devemos lembrar que o Visconde foi posteriormente “camarista” oficial de Pedro II, o que estabelece concisamente uma “(pré)ocupação” existente no próprio Imperador, ainda menino, com o processo educacional brasileiro, fato que se confirma por documentos e depoimentos.

É necessário também destacar que estes imigrantes foram os mesmos chegados a bordo do Justine à caminho da Austrália, e Koeler, habilmente conseguiu manipular por ações do Governo Provincial, conduzindo-os para as obras de melhoramentos da estrada para a serra, autorizadas pelo governo, e concluídas em 1839.

Foram 147 pessoas, que, após a conclusão da mesma obra, estabeleceram-se com autorização da Província, por intermédio do próprio Koeler, na região do Itamaraty. Segundo J. H. Rabaço,estes imigrantes “foram testemunhas inconscientes do Decreto Imperial que transformou o Córrego Seco em Petrópolis”.

EDUCAÇÃO NA IMPERIAL COLÔNIA

O primeiro núcleo escolar definitivo e oficial de Petrópolis foi criado especificamente para meninos alemães que haviam chegados a partir de 1843, com idade de sete a doze anos de idade. Mais tarde, este processo estendeu-se por mais oito escolas, sendo seis para meninos e duas para meninas.

Este momento único na política governo imperial, surgiu como idéia, segundo informações presentes no Relatório da Diretoria da Colônia, do próprio Aureliano Coutinho, presidente da Província (Rabaço, 1982), em novembro de 1845, quando de sua visita a Petrópolis:

“as famílias de colonos que foram me recepcionar além de solicitarem para que apressasse sua nacionalização, pediram escolas para a educação de seus filhos além de párocos ou pastores de suas religiões”.

O diretor e conseqüente Inspetor da Instrução Pública designado foi o próprio Major Koeler, em 1846. Fator este diferencial do das demais províncias brasileiras do período, onde um estrangeiro não receberia posição tão destacada no governo da Província. Semelhante conservadorismo poderia ser observado por receio do comportamento nacionalista dos estrangeiros e também por preconceito dos próprios nacionais.

Talvez possamos verificar nesta condição política, o componente de maior diferença para com o processo educacional público de imigrantes no Brasil na primeira metade do século XIX, mais precisamente na região fluminense. Isto se procedermos à comparação com as informações dispostas por Emílio Willens, detentor do maior estudo sobre o processo de aculturação dos alemães em nosso território (Willens, 1946).

Outro fato deveras importante foi também o envolvimento da presença integrada de D.Pedro e do mordomo Paulo Barbosa no projeto de construção do Palácio de Veraneio, no da cidade e no da organização e constituição da colônia.

Koeler como diretor da Colônia, ainda no primeiro semestre de 1846 impulsiona o funcionamento das primeiras salas de aulas que ocorreram no próprio Quartel das Obras Públicas, sendo que na ocasião ocorreu a matricula de aproximadamente quatrocentos filhos de colonos e que foram atendidos por professores bilíngües especialmente contratados, três católicos e três protestantes (Rabaço, 1982). Podemos neste propósito observar também a preocupação com a presença religiosa na comunidade, onde choques deveriam ser evitados na formação das novas gerações. Assim como processar com a presença de professores bilíngües, de um lento processo de acomodação cultural dos descendentes ao modelo cultural nacional.

O ensino era obrigatório e de condição básica, segundo disposto no próprio regulamento da Imperial Colônia e que fora aprovado pelo Governo Provincial. Todas as unidades locais eram sustentadas pela então criada Caixa de Socorros da Colônia destinados quase que exclusivamente, aos filhos de colonos que chegaram a partir de 1843.

Pela interpretação de Rabaço, ocorria a obrigatoriedade do pai enviar o filho a escola pelo menos por três vezes na semana, caso contrário ocorreria uma multa que seria paga a favor da criada Caixa de Socorros.

Semelhante medida, contrariava o hábito cultural herdado por estes da maioria das sociedades rurais européias de tradição feudal, na qual filhos faziam-se presentes na agricultura doméstica com seus pais objetivando aumentar a produção familiar, compensando a carência de braços no sistema produtivo.

Mas, pelo que observamos esta obrigatoriedade de três dias, permitia com flexibilidade a combinação do hábito cultural familiar com o desenvolvido processo de instrução básica. Este procedimento, segundo observado inaugura um precedente oficial que contrasta com de outras regiões colonizadas por teutos no Brasil, segundo pesquisas ( Willens, 1946).

Conforme registros, Rabaço ainda observou o rigor da fiscalização de Koeler, originaria de sua formação germânica, que resulta na penalização e demissão de professores nas áreas onde ocorreram problemas disciplinares considerados de gravidade.

O ENSINO BURGUÊS

Quando da apresentação de pesquisas acadêmicas, na área de educação, mais precisamente sobre o processo histórico educacional ocorrido em Petrópolis no século XIX, muitas teses e interpretações ganharam direção distinta, da real condição que historicamente se apresentou.

Estas consideram como única a presença de uma “educação tradicional” nos moldes formais de base européia, exemplificado pelo Colégio Kopke, que se destacou na apresentação historiográfica petropolitana pela coleção do Centenário Comemorativo. Em realidade o Kopke foi o primeiro colégio da região de iniciativa privada e que seguia a linha pedagógica oficial na questão curricular, esta sim de características européias. Mas não por ser seu proprietário especificamente um europeu, como também nada que conduzisse a um enquadramento com um modelo de ensino formal, como o desenvolvido na Corte e que se desenvolveria a partir de 1848 em Petrópolis (Sodré, 1937).

O Colégio Kopke, muito bem situado na Rua Conde de Nassau, era caracteristicamente um internato destinado aos filhos da elite da época, principalmente de industriais e comerciantes, que acorriam a matricular seus filhos na serra. O Colégio pela sua importância possuía representação inclusive na Corte, com escritório comercial.

Outro fato que proporciona relativa importância para o mesmo foi a presença cada vez maior de diplomatas com suas famílias na cidade o que também atraía os demais representantes e familiares na Corte.

Dirigido por Henrique Kopke, o estabelecimento fornecia o ensino de línguas como o francês, alemão, inglês e o clássico latim; além do ensino de matemática elementar, geografia, história e na área técnica, os alunos aprendiam escrituração e contabilidade comercial, o que denunciava uma especificação do ensino mercantil presente no período e que consistia em uma novidade para um colégio privado.

Semelhante capacitação tornava-se necessária para os que seguiam direto para o bacharelado na Corte ou mesmo os que viessem a assumir os prósperos negócios dos pais. Poderíamos até quem sabe, considerar para a época como uma formação a nível técnico, que somente se desenvolveria com a criação dos cursos do Liceu de Artes & Ofícios na cidade do Rio de Janeiro.

O Kopke era um internato, uma instituição educacional ideal e característica do século XIX (Áries, 1978), e em seu caso ainda de maior realce por se localizar na serra, sob um clima e condições “agradáveis” para os jovens, em uma cidade que preconizava fortes relações européias em seu ‘modus vivendis’.

Ocorria a probabilidade de que Kopke talvez houvesse estudado na Alemanha em uma “escola latina”, como eram denominados os cursos de ensino secundário e de formação humanista cujos parâmetros serviam basicamente a burguesia alemã com aulas em latim e não em alemão como a escola primária pública de base religiosa reformista.

Entre os professores de sua escola constatamos nomes que se destacaram no processo educacional do século XIX, como a de Calógeras, Paixão, Faletti entre outros também famosos na Corte e com presença em diversos estabelecimentos de renome.

Assim, confirmamos o fato de que neste estabelecimento ímpar ocorreu a implantação de um modelo de ensino, em parte idêntico ao que vigorava nas instituições da Corte na primeira metade do século XIX. Ensino de tradição e similaridade com metodologia e princípios franceses, mesmo em uma época onde o domínio inglês se fazia presente. Mas com currículo adaptável às realidades de sua clientela. Um ensino destinado a formação dos filhos da burguesia nacional.

Mais tarde, com a fuga da elite carioca para Petrópolis em seu veraneio “forçado” resultante das questões sanitaristas, ou pelo modismo implantado pela família imperial, mais precisamente na década de 50 do século XIX, muitos destes professores oriundos do Kopke, também criaram seus próprios estabelecimentos.

Em primeiro constatamos o caso de João Batista Calógeras (1857), que no mesmo período lecionara no Colégio Pedro II; e posteriormente Falleti e José Ferreira da Paixão, que foi “brindado” com uma visita oficial ao seu estabelecimento pelo imperador em 1879, fato amplamente divulgado pelos jornais da Corte no período. Este fato conduziu o Colégio Paixão a destacar-se entre os demais com um esquema de marketing único para um colégio da época, publicidade presente nos jornais além da menção gratuita nas colunas dos jornais do período.

Janeiro, Editora Zahar, 1978;FURTADO, Celso, Formação Econômica do Brasil, Coleção Brasiliana, 1963;FREIRE, Gilberto, Casa Grande & Senzala, Petrópolis, Editora Vozes, 1980;RABAÇO, José Henrique, História de Petrópolis, Petrópolis, IHP/UCP, 1982;SODRÉ, Alcindo, in Trabalhos da Comissão do Ministério da Educação para o Centenário da Cidade de Petrópolis, Petrópolis, PMP, 1937; volume 2 e 5WILLENS, Emilio, A Aculturação dos Alemães no Brasil, Rio de Janeiro , Coleção Brasiliana/MEC (Livraria JO), 1946.NOVAIS, Fernando A., Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808), São Paulo, Editora Hucitec, 1979;LUZURIAGA, Lorenzo, História da Educação Pública, São Paulo, Editora Nacional, 1959.

ARTIGOS, TESES E DOCUMENTOS:

KUJAWA, Henrique Aniceto, O Movimento dos Monges Barbudos, tese, Porto Alegre, UFRGS, 2000;SILVEIRA FILHO, Oazinguito Ferreira, 80 anos de educação em Pe

Janeiro, Editora Zahar, 1978;FURTADO, Celso, Formação Econômica do Brasil, Coleção Brasiliana, 1963;FREIRE, Gilberto, Casa Grande & Senzala, Petrópolis, Editora Vozes, 1980;RABAÇO, José Henrique, História de Petrópolis, Petrópolis, IHP/UCP, 1982;SODRÉ, Alcindo, in Trabalhos da Comissão do Ministério da Educação para o Centenário da Cidade de Petrópolis, Petrópolis, PMP, 1937; volume 2 e 5WILLENS, Emilio, A Aculturação dos Alemães no Brasil, Rio de Janeiro , Coleção Brasiliana/MEC (Livraria JO), 1946.NOVAIS, Fernando A., Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808), São Paulo, Editora Hucitec, 1979;LUZURIAGA, Lorenzo, História da Educação Pública, São Paulo, Editora Nacional, 1959.

ARTIGOS, TESES E DOCUMENTOS:

KUJAWA, Henrique Aniceto, O Movimento dos Monges Barbudos, tese, Porto Alegre, UFRGS, 2000;SILVEIRA FILHO, Oazinguito Ferreira, 80 anos de educação em Petrópolis, Petrópolis, Tribuna de Petrópolis, 10/10/1982, p.2, caderno especial;SILVEIRA FILHO, Oazinguito Ferreira, “Subsídios para a História do Carnaval Petropolitano: O Carnaval de Ontem”, in Tribuna de Petrópolis, Caderno Especial Comemorativo, fevereiro de 1985;GALLO, Silvio, Autoridade e a Construção a Liberdade: O Paradigma Anarquista em Educação, tese, Campinas, Unicamp, 1993.SCHAETTE, OFM, Fr. Estanislau, Pré História de Petrópolis, opúsculo, 1953;IMPERIAL COLÔNIA, Relatórios da Diretoria da Colônia, Coleção João Duarte da Silveira, Arquivo Público Municipal da Biblioteca Municipal;


sábado, 20 de dezembro de 2025

A COLONIZAÇÃO ALEMÃ EM PETRÓPOLIS

 A COLONIZAÇÃO ALEMÃ EM PETRÓPOLIS, segundo Emilio Willians

Silveira Filho, Oazinguito Ferreira da, in Tribuna de Petrópolis, 30/06/1984, primeira página, Segundo Caderno



Emilio Williams sociólogo natural de colônia na Alemanha nascido em 1905 imigrou para o Brasil migrou para o Brasil em 1931 onde já estabelecido dedicou-se aos estudos dos problemas de adaptação dos alemães as terras brasileiras. 

Lecionou em vários colégios no Estado do Paraná em São Paulo, onde ingressou no magistério universitário como concursado e foi orientado pelo ilustre professor e pesquisador conhecido Fernando de Azevedo assumindo a Cátedra de Antropologia da Universidade de São Paulo-USP.

Lecionou também como convidado nos Estados Unidos na Vanderbilt University, chegando a ministrar inúmeras palestras e conferências sobre assuntos de sua especialização. 

Entre vários trabalhos seus que foram publicados encontramos dois dos mais conhecidos a “Aculturação dos Alemães no Brasil” e a “Assimilação e Populações Marginais no Brasil”, entre incontáveis estudos e teses de inegável valor para as ciências humanas. 

Em “Aculturação dos Alemães no Brasil”, Williams trata do assunto até a época da publicação do mesmo em 1940 pouco estudado, sobre o modelo adaptacionista social dos povos imigrados para o Brasil, destacando-se os alemães. E um trabalho de profundidade onde suas análises são da maior relevância e aplicabilidade as diversas formas de colonização teutas no Brasil, bem como de outras. E nas quais atuais estudiosos devem se interessar, e torná-la bibliografia obrigatória aos trabalhos do campo em destaque. 

Mas este trabalho de Willens é muito pouco conhecido dos estudiosos da Petrópolis-Colônia, e seus conceitos nada relatados ou aplicados ou até mesmo discutidos. Isto talvez pelo grande volume de documentos que possuímos, mas que mesmo assim nos obrigam a leitura de outros.

Talvez a única crítica que possamos formular o seu trabalho seja a metodologia de estudo dos documentos o que lhe facultou uma aplicação de teorias generalizadas quanto a colonização alemã no território brasileiro. Não se detendo nos pequenos casos implicações regionalizadas que caracterizam as localidades especialmente o caso petropolitano.

Porém suas referências em estudo a Petrópolis deixa um pouco a desejar e mais ainda pouco a se atualizar senão vejamos algumas das que se destacaram e que nos são importantes.

A TRANSFORMAÇÃO DE PETRÓPOLIS EM CIDADE FOI PREJUDICIAL AOS COLONOS ALEMAES?

Emilio Willens afirma que a colonização alemã em Petrópolis foi por si só característica das demais do país. E que quando Petrópolis foi elevada à categoria de cidade, este ato foi realizado pura e simplesmente com a intenção de marginalizar e expulsar os alemães para os vales, preservando o centro da comunidade como exclusivo dos nacionais. Assinala ele também que profissionalmente, sendo reservado aos descendentes alemães o ofício de sapateiros, seleiros, ferreiros e outros de condição inferior. 

Williams alega também existia um só vereador de origem germânica em 1859 (João Mayer, sendo para William estes símbolos, fator do preconceito dos eleitores petropolitanos) para a defesa dos interesses da comunidade.

Estas suas considerações foram feitas tomando por base “Uhles Illustrierter Deutsh-Brasilianischer Familien-Kalender, 1911”.

Em primeiro lugar estas suas considerações iniciais sobre os alemães de Petrópolis estão segundo os mais recentes estudos desatualizados 

A elevação de Petrópolis a categoria de cidade obedeceu a uma premente necessidade da atuante comunidade em que ela se tornara importante centro de veraneio da família imperial e do estimulante ritmo comercial que começava a se impor, recaindo mais tarde em um direcionamento industrializante, o que por si só já é um fator relevante e condicionante do ato.  A parcial transferência urbana da capital.

Quanto a ser realizada para a completa marginalização dos alemães em detrimento dos nacionais, isso se torna inexato, pois desde o estabelecimento da colônia, a lei de colonização estipulava que deveria existir um número igual ou maior de nacionais para com a população alemã. 

Outro fato a ser salientado neste cenário é o que em qualquer desenvolvimento urbano brasileiro, o centro da comunidade tende a ser destinado quase como um fenômeno ao exclusivismo comercial ao exclusivismo comercia. Isto não caracterizou uma expulsão e os vales, quarteirões, atuais bairros segundo o projeto original eram designados como áreas para os projetos agropecuários colonialistas o que claramente não se sucedeu.

Outro item seria o de haver somente um vereador germânico nesta época William se esquece totalmente de que a legislação eleitoral do tempo era essencialmente seletiva, realizada com base nas posses dos indivíduos. E de que todos os colonos provinham de regiões humildes da Alemanha o que caracterizava sua pobreza e inferioridade de instrução entre os mesmos e torna-se também indicador o grande volume de profissões artesanais e campesinas entre eles. 

DESACULTURACAO COM A MUDANCA ADMINISTRATIVA?

Willens contextualiza que nesta mesma época, com a mudança administrativa da direção da colônia para o estabelecimento da Câmara Municipal, os alemães e seus descendentes perdem muito mais seu contato cultural com seu primitivo gerenciamento institucional subordinado a Corte.

Fala ainda sobre os mais novos estes trocavam com facilidade sua diferença cultural pela dos nacionais, e que as mulheres possuíam uma conduta moral totalmente desabonadora.               

Porém logo depois Williams assinala com grande veracidade que foi a vida miserável que os mesmos levavam na colônia, que os condenava não somente a uma perda de sua cultura como também dos princípios morais (com base in, Johann J. von Tschudi, op.cit., 1866).

Sabemos o quanto foi impossível para os colonos se situarem na nova terra. Os projetos agrícolas foram condenados ao fracasso por falta de vários elementos, inclusive incentivos financeiros da província, somente restando aos mesmos com a sobrevivência frágil, com base nos vazios do consumismo imediatista da sociedade petropolitana que se impunha a veranista. 

Uma forma de prestação de serviços auxiliares aqueles que tão bem eram desempenhados por eles em suas aldeias da terra origem. 

Muitas das vezes muitas das vezes nem estes elementos satisfaziam a necessidade familiar, eram frequentemente as “moçoilas brancas” que defenderiam a sobrevivência familiar frente a “boa sociedade aristocrática e veranista”, como também frente aos “bons rapazes” da aristocracia. Ocupavam o serviço doméstico concorrendo com os negros de locação, atendendo aos anúncios dos jornais locais (Parahyba, O Mercantil). Outro setor que as empregava eram os hotéis, em grande quantidade que desejavam a mão de obra branca das filhas dos colonos que lhes vendiam carvão para seus fogões (ameaça de desmatamento que leva a medidas radicais de D. Pedro para a Colônia). 

Todo este quadro torna o processo de aculturação não um ato deprimente, mas sim uma adequação necessária pela proximidade com uma urbe maior e mais desenvolvida e se impunha seu próprio “modus vivendis”, massacrando o que se interpusesse em seu caminho de que fosse o modesto protótipo de colônia.

Quanto ao “acaboclamento” assinalado por Williams, este se afirma não como um fim, mais também como um meio de sobrevivência do indivíduo ante a miserável situação que se impunha perder a língua “mãe” e de seus costumes era determinante para caso não se fizesse sucumbir. 

Não que o sentimento nativista falasse mais alto e a colonização porém para o pais em sua unidade tornara-se aberrante e de difícil compreensão, outra sociedade ilhada com costumes e idioma diferentes.

Este sujeitamento era necessário dentro dos princípios de homogeneização da sociedade brasileira cuja raiz já se tornara profundamente mestiça.

Outro elemento que colaborou com este acaboclamento é o fato de educação ser privilégio de poucos na comunidade, e o não incentivo a proliferação de escolas públicas. Quando se assinala o descaso dado a organização de escolas alemães, e porque este não era o princípio defendido pelas administrações, o que se esperava e talvez tenha sido um erro, era o rápido entrosamento interétnico entre as populações, e que só se sucedeu na transição dos séculos, com a industrialização maciça.


PROCESSOS TECNICOS DOS DESCENDENTES ALEMAES 

Williens, também se engana ao afirmar que por informações de um observador pode destacar não haver tido o mínimo de progressividade técnica nos processos de produção entre os descendentes alemães de Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis e que novamente o acaboclamento se tornou evidente. 

Quanto aos casos de Teresópolis e Friburgo nada podemos afirmar, por não o conhecermos. Mas, quanto a Petrópolis, sim, que isto se torna uma inveracidade.

Vários foram os frutos o progresso técnico alemão e que puderam ser verificados, principalmente nos modos de produção industriais têxteis e de muitos outros.

As cervejarias são um típico exemplo disto, alcançaram um nível e renome internacional – nas firmas de tecidos alemães foram importantes conseguindo sobrepujar aos italianos e nacionais, chegando inclusive alguns alemães e seus respectivos descendentes a se tornarem industriais. Isto sem falar no campo da construção civil, aonde foram os mais eficientes obreiros e artesãos encontrados. Seu nível artesanal indicou e serviu de alicerce para inúmeros outros campos de produtividade, sem importância mais relevantes para a comunidade e emergente que Petrópolis se tornava no Estado.

A RELIGIÃO DA COMUNIDADE 

Emilio Williams estuda a religião em Petrópolis tomando por base H.H. Handelmann, História do Brasil, 1931 e “Festschrift der Deutsch-Evangelischen Germeinde in Petropolis, 1863-1913”.

Assinalando a disputa ocorrida entre o pároco católico alemão e o brasileiro, cuja rivalidade terminou com a expulsão do alemão.

Não obstante o protestantismo evangélico, se fornou até ante decisões legais do núncio apostólico em questões de pouca relevância na comunidade. 

Concorde-se com Willens em suas análises que o conflito delicioso era permanente e que para tal o pastor e a comunidade alemã de Petrópolis tiveram que obedecer ao arbítrio do Conselho Evangélico de Berlim. 

Outro fato que deve ser apoiado e que com o processo de desaculturação muitos se converteram ao catolicismo. 

Porém aqui abrimos um parênteses de referência que passa desapercebido a estudiosos como Willens e outros.  E o de não encontrarmos em Petrópolis os fenômenos acontecidos no sul do país, com sérios conflitos: como o messianismo e o que é beatismo, natural de comunidades onde a religiosidade foi nula. Petrópolis ao contrário comportava conflitos internos religiosos. 


PALAVRAS FINAIS DE EMILIO WILLENS

Ele concorda que o governo brasileiro não poderia permitir a criação dentro do seu território de uma província exclusivamente estrangeira com autonomia e governo próprio, que comprometesse os princípios de unidade da população nacional. Porém Willens exagera no que diz em que os brasileiros terão de desistir de suas veleidades nativistas. 

Ele se esquece dos primórdios de formação da civilização europeia, onde o domínio de um povo pelos outros era uma constante.  E que no caso no caso de uma nação nova como a brasileira e que já havia experimentado amargura da dependência colonialista tão cedo poderia se livrar dessa ideia nefasta.