A COLONIZAÇÃO ALEMÃ EM PETRÓPOLIS, segundo Emilio Willians
Silveira Filho, Oazinguito Ferreira da, in Tribuna de Petrópolis, 30/06/1984, primeira página, Segundo Caderno
Emilio Williams sociólogo natural de colônia na Alemanha nascido em 1905 imigrou para o Brasil migrou para o Brasil em 1931 onde já estabelecido dedicou-se aos estudos dos problemas de adaptação dos alemães as terras brasileiras.
Lecionou em vários colégios no Estado do Paraná em São Paulo, onde ingressou no magistério universitário como concursado e foi orientado pelo ilustre professor e pesquisador conhecido Fernando de Azevedo assumindo a Cátedra de Antropologia da Universidade de São Paulo-USP.
Lecionou também como convidado nos Estados Unidos na Vanderbilt University, chegando a ministrar inúmeras palestras e conferências sobre assuntos de sua especialização.
Entre vários trabalhos seus que foram publicados encontramos dois dos mais conhecidos a “Aculturação dos Alemães no Brasil” e a “Assimilação e Populações Marginais no Brasil”, entre incontáveis estudos e teses de inegável valor para as ciências humanas.
Em “Aculturação dos Alemães no Brasil”, Williams trata do assunto até a época da publicação do mesmo em 1940 pouco estudado, sobre o modelo adaptacionista social dos povos imigrados para o Brasil, destacando-se os alemães. E um trabalho de profundidade onde suas análises são da maior relevância e aplicabilidade as diversas formas de colonização teutas no Brasil, bem como de outras. E nas quais atuais estudiosos devem se interessar, e torná-la bibliografia obrigatória aos trabalhos do campo em destaque.
Mas este trabalho de Willens é muito pouco conhecido dos estudiosos da Petrópolis-Colônia, e seus conceitos nada relatados ou aplicados ou até mesmo discutidos. Isto talvez pelo grande volume de documentos que possuímos, mas que mesmo assim nos obrigam a leitura de outros.
Talvez a única crítica que possamos formular o seu trabalho seja a metodologia de estudo dos documentos o que lhe facultou uma aplicação de teorias generalizadas quanto a colonização alemã no território brasileiro. Não se detendo nos pequenos casos implicações regionalizadas que caracterizam as localidades especialmente o caso petropolitano.
Porém suas referências em estudo a Petrópolis deixa um pouco a desejar e mais ainda pouco a se atualizar senão vejamos algumas das que se destacaram e que nos são importantes.
A TRANSFORMAÇÃO DE PETRÓPOLIS EM CIDADE FOI PREJUDICIAL AOS COLONOS ALEMAES?
Emilio Willens afirma que a colonização alemã em Petrópolis foi por si só característica das demais do país. E que quando Petrópolis foi elevada à categoria de cidade, este ato foi realizado pura e simplesmente com a intenção de marginalizar e expulsar os alemães para os vales, preservando o centro da comunidade como exclusivo dos nacionais. Assinala ele também que profissionalmente, sendo reservado aos descendentes alemães o ofício de sapateiros, seleiros, ferreiros e outros de condição inferior.
Williams alega também existia um só vereador de origem germânica em 1859 (João Mayer, sendo para William estes símbolos, fator do preconceito dos eleitores petropolitanos) para a defesa dos interesses da comunidade.
Estas suas considerações foram feitas tomando por base “Uhles Illustrierter Deutsh-Brasilianischer Familien-Kalender, 1911”.
Em primeiro lugar estas suas considerações iniciais sobre os alemães de Petrópolis estão segundo os mais recentes estudos desatualizados
A elevação de Petrópolis a categoria de cidade obedeceu a uma premente necessidade da atuante comunidade em que ela se tornara importante centro de veraneio da família imperial e do estimulante ritmo comercial que começava a se impor, recaindo mais tarde em um direcionamento industrializante, o que por si só já é um fator relevante e condicionante do ato. A parcial transferência urbana da capital.
Quanto a ser realizada para a completa marginalização dos alemães em detrimento dos nacionais, isso se torna inexato, pois desde o estabelecimento da colônia, a lei de colonização estipulava que deveria existir um número igual ou maior de nacionais para com a população alemã.
Outro fato a ser salientado neste cenário é o que em qualquer desenvolvimento urbano brasileiro, o centro da comunidade tende a ser destinado quase como um fenômeno ao exclusivismo comercial ao exclusivismo comercia. Isto não caracterizou uma expulsão e os vales, quarteirões, atuais bairros segundo o projeto original eram designados como áreas para os projetos agropecuários colonialistas o que claramente não se sucedeu.
Outro item seria o de haver somente um vereador germânico nesta época William se esquece totalmente de que a legislação eleitoral do tempo era essencialmente seletiva, realizada com base nas posses dos indivíduos. E de que todos os colonos provinham de regiões humildes da Alemanha o que caracterizava sua pobreza e inferioridade de instrução entre os mesmos e torna-se também indicador o grande volume de profissões artesanais e campesinas entre eles.
DESACULTURACAO COM A MUDANCA ADMINISTRATIVA?
Willens contextualiza que nesta mesma época, com a mudança administrativa da direção da colônia para o estabelecimento da Câmara Municipal, os alemães e seus descendentes perdem muito mais seu contato cultural com seu primitivo gerenciamento institucional subordinado a Corte.
Fala ainda sobre os mais novos estes trocavam com facilidade sua diferença cultural pela dos nacionais, e que as mulheres possuíam uma conduta moral totalmente desabonadora.
Porém logo depois Williams assinala com grande veracidade que foi a vida miserável que os mesmos levavam na colônia, que os condenava não somente a uma perda de sua cultura como também dos princípios morais (com base in, Johann J. von Tschudi, op.cit., 1866).
Sabemos o quanto foi impossível para os colonos se situarem na nova terra. Os projetos agrícolas foram condenados ao fracasso por falta de vários elementos, inclusive incentivos financeiros da província, somente restando aos mesmos com a sobrevivência frágil, com base nos vazios do consumismo imediatista da sociedade petropolitana que se impunha a veranista.
Uma forma de prestação de serviços auxiliares aqueles que tão bem eram desempenhados por eles em suas aldeias da terra origem.
Muitas das vezes muitas das vezes nem estes elementos satisfaziam a necessidade familiar, eram frequentemente as “moçoilas brancas” que defenderiam a sobrevivência familiar frente a “boa sociedade aristocrática e veranista”, como também frente aos “bons rapazes” da aristocracia. Ocupavam o serviço doméstico concorrendo com os negros de locação, atendendo aos anúncios dos jornais locais (Parahyba, O Mercantil). Outro setor que as empregava eram os hotéis, em grande quantidade que desejavam a mão de obra branca das filhas dos colonos que lhes vendiam carvão para seus fogões (ameaça de desmatamento que leva a medidas radicais de D. Pedro para a Colônia).
Todo este quadro torna o processo de aculturação não um ato deprimente, mas sim uma adequação necessária pela proximidade com uma urbe maior e mais desenvolvida e se impunha seu próprio “modus vivendis”, massacrando o que se interpusesse em seu caminho de que fosse o modesto protótipo de colônia.
Quanto ao “acaboclamento” assinalado por Williams, este se afirma não como um fim, mais também como um meio de sobrevivência do indivíduo ante a miserável situação que se impunha perder a língua “mãe” e de seus costumes era determinante para caso não se fizesse sucumbir.
Não que o sentimento nativista falasse mais alto e a colonização porém para o pais em sua unidade tornara-se aberrante e de difícil compreensão, outra sociedade ilhada com costumes e idioma diferentes.
Este sujeitamento era necessário dentro dos princípios de homogeneização da sociedade brasileira cuja raiz já se tornara profundamente mestiça.
Outro elemento que colaborou com este acaboclamento é o fato de educação ser privilégio de poucos na comunidade, e o não incentivo a proliferação de escolas públicas. Quando se assinala o descaso dado a organização de escolas alemães, e porque este não era o princípio defendido pelas administrações, o que se esperava e talvez tenha sido um erro, era o rápido entrosamento interétnico entre as populações, e que só se sucedeu na transição dos séculos, com a industrialização maciça.
PROCESSOS TECNICOS DOS DESCENDENTES ALEMAES
Williens, também se engana ao afirmar que por informações de um observador pode destacar não haver tido o mínimo de progressividade técnica nos processos de produção entre os descendentes alemães de Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis e que novamente o acaboclamento se tornou evidente.
Quanto aos casos de Teresópolis e Friburgo nada podemos afirmar, por não o conhecermos. Mas, quanto a Petrópolis, sim, que isto se torna uma inveracidade.
Vários foram os frutos o progresso técnico alemão e que puderam ser verificados, principalmente nos modos de produção industriais têxteis e de muitos outros.
As cervejarias são um típico exemplo disto, alcançaram um nível e renome internacional – nas firmas de tecidos alemães foram importantes conseguindo sobrepujar aos italianos e nacionais, chegando inclusive alguns alemães e seus respectivos descendentes a se tornarem industriais. Isto sem falar no campo da construção civil, aonde foram os mais eficientes obreiros e artesãos encontrados. Seu nível artesanal indicou e serviu de alicerce para inúmeros outros campos de produtividade, sem importância mais relevantes para a comunidade e emergente que Petrópolis se tornava no Estado.
A RELIGIÃO DA COMUNIDADE
Emilio Williams estuda a religião em Petrópolis tomando por base H.H. Handelmann, História do Brasil, 1931 e “Festschrift der Deutsch-Evangelischen Germeinde in Petropolis, 1863-1913”.
Assinalando a disputa ocorrida entre o pároco católico alemão e o brasileiro, cuja rivalidade terminou com a expulsão do alemão.
Não obstante o protestantismo evangélico, se fornou até ante decisões legais do núncio apostólico em questões de pouca relevância na comunidade.
Concorde-se com Willens em suas análises que o conflito delicioso era permanente e que para tal o pastor e a comunidade alemã de Petrópolis tiveram que obedecer ao arbítrio do Conselho Evangélico de Berlim.
Outro fato que deve ser apoiado e que com o processo de desaculturação muitos se converteram ao catolicismo.
Porém aqui abrimos um parênteses de referência que passa desapercebido a estudiosos como Willens e outros. E o de não encontrarmos em Petrópolis os fenômenos acontecidos no sul do país, com sérios conflitos: como o messianismo e o que é beatismo, natural de comunidades onde a religiosidade foi nula. Petrópolis ao contrário comportava conflitos internos religiosos.
PALAVRAS FINAIS DE EMILIO WILLENS
Ele concorda que o governo brasileiro não poderia permitir a criação dentro do seu território de uma província exclusivamente estrangeira com autonomia e governo próprio, que comprometesse os princípios de unidade da população nacional. Porém Willens exagera no que diz em que os brasileiros terão de desistir de suas veleidades nativistas.
Ele se esquece dos primórdios de formação da civilização europeia, onde o domínio de um povo pelos outros era uma constante. E que no caso no caso de uma nação nova como a brasileira e que já havia experimentado amargura da dependência colonialista tão cedo poderia se livrar dessa ideia nefasta.
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