sábado, 16 de janeiro de 2010

MATADOURO & MATANÇA DE GADO EM PETRÓPOLIS

MATADOURO & MATANÇA DE GADO EM PETRÓPOLISMATADOURO & MATANÇA DE GADO EM PETRÓPOLIS[1] &[2]

Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, professor e pesquisador, licenciado em História pela UCP e pós-graduado em História do Século XX pela UCAM – oazinguitoferreira@gmail.com

“Segundo relatório do prefeito Yêddo Fiúza, de 1932, o número de cabeças abatidas por ano no Matadouro modelo criado em 1928, aumentara para 12.449, possibilitando ao município uma receita da ordem de 94:653$000 réis.”
(in, Silveira Filho, Oazinguito Ferreira, Matadouro & Matança de Gado em Petrópolis – 1920/1981, Tribuna de Petrópolis,

10/11/1984)


A questão da “matança de gado” em Petrópolis, confundem-se com a história muitas vezes polêmica, do matadouro petropolitano. Quando falamos em “matadouro” não nos referimos somente ao estabelecimento oficial, imponente estrutura arquitetônica situadas na Rua Barão do Rio Branco, extinto Quarteirão Westphalia em 1928, onde atualmente se encontra abrigado o Liceu Carlos Chagas[3], mas também aos “matadouros” oficiais e não oficiais que ela e a extinta Rua Dom Afonso outrora possuíram, bem como os de particulares. É obvio que destes se destaca de empreitada oficial, realizada no município provavelmente desde 1856.

ORIGENS DO ABATE

A população da Petrópolis – colônia, realizava seu corte de gado desde 1843 em um largo situado à Rua Dom Afonso, atualmente denominada avenida Koeller[4]. 
Porém como paso-a-paso a colônia crescia desenvolvendo-se em ritmo acelerado, fica evidente o consumismo de carne-verde[5] que se processava. Além disso, a matança não ficou restrita à praça publica, deslocando-se também para os quintais de algumas residências particulares, ou fundos de açougues e salsicharias, caracterizando o que podemos denominar como “matadouros 
domésticos”, e o que constantemente criava transtornos e reclamações por parte das residências vizinhas.
Sabe-se, segundo informações de Antonio Machado[6], que ergueu-se na Rua Dom Afonso, um alpendre destinado a abrigar tal processo e que funcionou até 1857.
Esta preocupação para com a legalização e centralização tanto do abate, assim como do corte e venda do produto em Petrópolis, assume tal magnitude que se torna uma problemática oficial. 
Em relatório de 1858, o então diretor da Imperial Colônia de Petrópolis, Capitão de Engenharia José Maria Jacinto Rebelo, observa, segundo suas estatísticas, que os colonos já contavam chegava a casa 1.330 cabeças. Efetuando ele conseqüentemente a compra do terreno na Westphalia para construção de estrutura destinada ao mesmo e despendendo para este fim a quantia de 6.000$000 réis. No mesmo documento o Diretor trata de submeter projeto de sua autoria ao Presidente da Província para edificação do prédio do Matadouro. Não podemos informar o resultado do processo, e se este se concretizou, em virtude da falta de dados.  
Por algumas estatísticas da época, sabe-se que em 1860 Petrópolis já contava com três açougues e salsicharias, todos situados à Rua do Imperador e em 1854 acrescentam-se mais uma casa (três dos proprietários eram de nacionalidade francesa). Este volume comercial indica uma significativa exploração do comércio de carne-verde, o que justificaria, portanto o aparecimento em 1858 do Açougue Publico no n. 5 da mesma rua.
Construído o matadouro, provavelmente entre 1855 e 1857, o mesmo é administrado pela Câmara Municipal da Estrela (Requerimentos encaminhados à Câmara Municipal de Petrópolis, em 1859), passando posteriormente à administração da Câmara Municipal de Petrópolis, com a sua criação de 1859.

O MATADOURO NA WESTPHALIA E AS FRUSTADAS TENTATIVAS DE TRANSFERÊNCIA

Como podemos observar em uma rápida analise de suas origens a preocupação oficial de regularizar a iniciativa, levou o município a empresaria-lo, impedindo o acesso de particulares. Já que segundo aos olhos dos vereadores de então a atividade era muito lucrativa para que o município não participasse do empreendimento. 
Porém essa municipalização tinha o propósito “oficial” de coibir os abusos da iniciativa privada no que concerne a exploração “avilssareira”, como era mencionado na época, com o produto e buscando também alegar o respeito à postura publica, ao mesmo tempo em que controlava também o problema sanitário aliado ao mesmo.  
Porém, mesmo com instalações consideradas adequadas para época e local satisfatório, a cidade evoluía, seu núcleo urbano, tornando-se a região ocupada pelo Matadouro mais importante zona residencial da cidade. Advindo conseqüentemente uma onda generalizada de protestos, os quais alegavam inúmeros motivos tais como: mau cheiro, urubus, poeira pela constante passagem do gado, interrupção do transporte, e outros mais. Por estes, a comunidade em diversas épocas expressou o seu descontentamento, chegando a dirigir requerimentos com dezenas de assinaturas à Câmara Municipal. Este conflito chegou inclusive a ganhar as colunas dos jornais de então, gerando debates.  
Por tais protestos, estudou-se por várias ocasiões a transferência do mesmo, sendo que os momentos em que mais chamaram a atenção pela seriedade em que eram abordados, foram o da década de 70 de Egallon & Sampaio, concessionário do Matadouro Municipal para a Fazenda de Olaria em Corrêas, e posteriormente em 1987 com a compra das terras pertencentes ao Visconde de Cruz Alta, nas várzeas dos Rios Mortos e Piabanha, pela Câmara Municipal, mas que não chega a concretizar-se. 
A Câmara Municipal após haver normalizado a questão do Matadouro na década de 60, deu inicio a uma rígida fiscalização para verificar a obediência ao código de posturas, para tanto, inúmeros estabelecimentos e residências são advertidos ou mesmo autuados, este trabalho contava com auxilio do serviço de saúde do município nos casos de epidemias.
As pesquisas também nos conduzem a observar as diversas propostas que a partir da década de 60 a Câmara Municipal recebe de arrematação do Imposto Municipal sobre o abate no Matadouro, e que nos apresentam operações altamente lucrativas que excediam a casa dos 1:000.000$000 réis, e eram abertas a particulares capitalistas, muitas vezes sob a forma de 
concorrência.

CONSERTOS E EPIDEMIAS

Notamos também nos inúmeros processos em andamento na Câmara que seguem de 70 a 90, alguns pedidos de consertos de portões, construção de anexos que fazem os administradores, o que nos conduz a dedução de que a antiga construção se manteve a mesma por mais de 50 anos, com somente alguns consertos necessários, mas sem reformas profundas.  
Outro ponto comum que podemos identificar é o de que o Matadouro Municipal se transforma no domínio dos marchantes ao final do século, e que estes influenciam politicamente os interesses do mesmo. 
Constatamos também que foram inúmeras as epidemias que afetavam o fornecimento do Matadouro Municipal, já que desde 70 a criação da cidade não era suficiente para o consumo. Porém, nunca ocorrera uma epidemia que sacrificasse o funcionamento do estabelecimento, a não ser em 1894, quando uma quarentena obriga. “Consta-nos que a bordo do Potosi estão 450 reses destinadas a esta cidade, e que o paquete tem de ir purgar quarentena de oito dias na Ilha Grande.[7]”
Em virtude do problema os preços da “carne verde” no município subiram desordenadamente o que obrigou a Câmara a fixar tabela ao comércio do mesmo com ampla fiscalização nos estabelecimentos. 

MAIOR RECEITA DO MUNICÍPIO?

O subtítulo muito espantaria os estudiosos de historia econômica municipal, mas segundo vários mapas demonstrativos sobre Receitas e Despesas presentes na documentação da Câmara Municipal, principalmente nos períodos que seguem de 1900 a 1920, chega-se à conclusão que após a arrecadação com os impostos prediais e territoriais, a segunda maior receita do município 
advinha dos serviços prestados no Matadouro Municipal, por intermédio dos impostos de Talho de Gado e o de Couro, Sebo & Chifres. Fato que evidencia de sobremaneira a importância que a atividade obteve na região, e que nos leva a observar a importância social e política que criadores e marchantes neste período possuíam no município. 
Após várias décadas se bons serviços seria natural que o antigo prédio do Matadouro passasse por obras de recuperação, para tanto o artista João Muzzell, em 1889, realiza proposta para as obras de remodelação do mesmo, que seriam realizadas pela quantia de 3:640$000 réis e incluiriam troca de todos os sarrilhos nos lugares determinados, um “coberto”[8] de vinte metros de comprimento e seis e meio de largura, mais outros dois cobertos com quinze de comprimento e sete de largura, e um com cinqüenta e dois metros totalmente em madeira de lei, além de uma casinha de ferro. A proposta foi aceita pela Câmara Municipal e a obra conseqüentemente realizada. Porém a obra de vulto mesmo se realizaria em 1922, consagrada a importância econômica da atividade para o município[9], e seria realizada com o advento da Prefeitura Municipal, com a realização de um novo e moderno matadouro para a cidade, com estrutura arquitetônica[10]. 



BIBLIOGRAFIA

Livros de registros do Matadouro Municipal, Arquivo Histórico Municipal.

Notas e Referências:

[1] Adaptado do ensaio sobre a história do matadouro em Petrópolis, “Matadouro &
matança de gado, 1843 a 1920 em Petrópolis”, Tribuna de Petrópolis, primeira
parte publicada em 02/11/1984 e a segunda em 10/11/1984.
Como tratava-se à época de um artigo, mais que um ensaio, o que mais se
destacava na publicação foram as fotos históricas passadas junto com o pequeno
arquivo do matadouro e utilizadas na publicação, que hoje deverão estar
depositadas no Arquivo Histórico Municipal
[2] As referências aqui encontradas foram adicionadas posteriormente a
publicação do artigo-ensaio.
[3] Escola da rede municipal que sepultou o projeto inicial do segundo governo
Paulo Gratacós de um palácio de cultura com um teatro de “bolso” idealizado pelo
artista plástico Raul Lopes
[4] aproximadamente onde hoje situa-se a Catedral de Petrópolis, observação de
Guilherme Eppinghaus na época da publicação do artigo fora consultado.
[5] como era comumente denominada a carne-fresca, de gado recentemente abatido
[6] in, Trabalhos da Comissão do Centenário de Petrópolis
[7] in, Gazeta de Petrópolis, 19/12/1894.
[8] Para abrigar o gado. Tais cobertos situavam-se onde hoje se localiza o Corpo
de Bombeiros e Defesa Civil e área da Condep.
[9] Não deve ser esquecida também a importância das questões sanitárias em
Petrópolis que tomaram vulto a partir da presença de Oswaldo Cruz e Cardoso
Fontes, e que se acentuaram com o serviço municipal de saúde respaldado nos
trabalhos da Inspetoria de Saúde principalmente a partir da epidemia de
espanhola.
[10] O Matadouro Modelo foi proposta de Meanda Curty & Cia., tornando o mesmo o
segundo do Estado em modernização de suas instalações bem como o terceiro do
país para a época.

Nenhum comentário: