sábado, 16 de janeiro de 2010

OS URBANISTAS

OS URBANISTAS: A HISTÓRIA LOCAL NO SÉCULO XX[1]

Em nosso último artigo (“Em tempos de rodoviária...” 21/12) registramos a histórica presença do famoso urbanista mundial do período entre-guerras, Alfred Agache.E a curiosidade histórica de alguns de nossos leitores sobre este momento da história petropolitana se aguçou a ponto de solicitar-nos algumas explicações.Em primeiro precisamos registrar que Petrópolis possui uma grandiosa história local, cujo registro é lento e corre risco de se perder.Não existem investimentos públicos nem privados para que se constitua um Arquivo Geral nos moldes do Rio de Janeiro, São Paulo ou das menores ou melhores cidades européias e norte-americanas.Durante algumas décadas não produzimos professores nem especialistas no setor por descaso administrativo, munícipe ou universitário. Até mesmo nossa educação historiográfica está prejudicada por excesso de pedagogismos “verborrágicos” e politiqueiros. O IHP (Instituto Histórico de Petrópolis) luta sozinho e bravamente, sem verbas ou investimentos para registro de suas pesquisas, sendo neste particular reduzido o grupo de pesquisadores com trabalhos efetivos que se encontra no mesmo, e que com galhardia procuram registrar em site próprio suas pesquisas, mesmo com criticas de acadêmicos teóricos e puristas.Quando se discute urbanismo no século XX em Petrópolis, os registros são ralos e esparsos, ou dominados por propostas “pseudo-modernistas” que ferem toda uma estrutura histórica que é a do Plano Koeller.Ao falar de Agache, me referi a uma proposta de adequação de preservação do sitio histórico ao desenvolvimento da área periférica que era defendido bravamente por grupos como o de Guilherme Eppinghaus e outros petropolitanos coerentes, que observavam a aberração política que nas décadas seguintes tornaria Petrópolis uma impossibilidade. Agache, antes de sua frustrante visita técnica à Petrópolis, desenvolveu junto com Attílio Lima, (primeiro brasileiro a apresentar tese no Institut d’Urbanisme de Paris) o Plano de Remodelação e Embelezamento do Rio de Janeiro (1929), e após a “frustrante” visita no ano de 1943, junto a empresa Coimbra & Cia. criou o Plano Agache, de Curitiba, considerado um dos primeiros planos de reurbanização do Brasil, que muito orgulha os curitibanos por incluir medidas de saneamento, definição de áreas para habitação, serviços e indústrias e reestruturação viária que é sua principal base de sustentação. Curitiba possuía nesta época 127 mil habitantes, ao passo que Petrópolis comportava pouco mais de 50 mil.Petrópolis não precisava de desenhos novos, mas de racionalidade de suas propostas de crescimento e ocupação, para que não comprometesse o projeto original de Koeller. O Dr. Mario Aloísio Cardoso de Miranda, então prefeito, observara este fato, pois contemporâneo do Embaixador Leitão da Cunha e de R. Haack, contemplava os registros fotográficos (Arquivo do Museu Imperial) de ambos do centro da cidade (muitos transformados em cartão postal) junto com Eppinghaus, e já notavam a invasão resultante do crescimento populacional o que conduzia a que elaborassem o que hoje existe em inúmeras cidades brasileiras e pode ser denominado como Plano Emergencial de Gestão das Cidades.Mas, a avalanche especulativa e financeira produziu ruinosos efeitos nas mãos de administradores municipais quem nem eram petropolitanos, mas sim interventores “estrangeiros” que se seguiram. Semelhante resultou na abertura de bairros sem planejamentos e ocupações desordenadas de centenas de loteamentos irregulares que foram oficializados por vereadores “papalvos”, como frisou posteriormente Silvio Júlio (em seu livro “cassado” nas livrarias), historiador pernambucano reverenciado no exterior como um dos maiores estudiosos de América Latina, que aqui residiu até sua morte combatendo os arbítrios em nossa cidade.Um olhar atento na atualidade observaria que qualquer mudança do eixo urbano, seria um crime praticado por três ângulos: contra o histórico, contra o sócio-econômico e contra o eco-sistema marginal da BR-040.Algo que não resultaria em produto benéfico à comunidade como frisam “defensores”, mas que históricamente pode qualificar-se como destrutivo, pois quando se trata de uma região serrana o que necessita ser contido é o crescimento populacional que por sua vez privilegia o histórico e continuo movimento imobiliário especulativo e politiqueiro.Não possuímos um “Lerner”, mas produzimos bons especialistas que podem e devem ser consultados. Alguns até trabalham na própria administração pública, sufocados.Quando mencionamos a foto do Embaixador Leitão da Cunha (Museu Imperial), uma destas retrata nos jardins do prédio da Câmara um passadiço com piso de azulejo que segundo muitos ex-funcionários antigos foram frutos de um projeto de Burle Marx quando recém formado (anos 30). E que talvez esteja “soterrado”. Uma boa proposta arqueológica para um trabalho que se verdadeiro, nem registro nacional possuí, e nossa sociedade se encarregou de sepultar. Por falar em sepultamento, na mesma época, anos 40, Cândido Portinari produziu duas pinturas sobre Petrópolis que se tornaram celebres a nível nacional por seu protesto político a condição especulativa imobiliária que atingia a cidade, uma destas inclusive foi capa de um guia telefônico da extinta TELERJ.

[1] Publicado na Tribuna de Petrópolis, em 27/12/2005, p.2.

Nenhum comentário: