quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

NOSSOS IDOSOS E A MEMÓRIA PETROPOLITANA

A MEMÓRIA DE NOSSA CIDADE ESTÁ PRESENTE EM NOSSOS IDOSOS
Tribuna de Petrópolis 2007

Somos criticados com constância por retornar ao mesmo assunto, a História Oral em nossa cidade. Mas que posso fazer? Sendo pesquisador e professor de História, torna-se condição ímpar em meu cotidiano e que constantemente nos assusta. A preservação da memória social de nossa comunidade.

Os “lotações” são meu mais eficiente meio de transporte diário, desde a manhã à noite, para o trabalho, já que não dirijo. E assim, faço deles também meu cotidiano, que as vezes torna-se aborrecido e irritante pela péssima prestação de um serviço tão precioso à população. Mas por outra, torna-se fantástico, quando entramos em contato com nossa “massa” populacional. Assim observamos seus desejos, suas idéias, principalmente quanto as informações sobre o dia-a-dia desta mesma sociedade.

Nossos políticos infelizmente esqueceram-se, de como é necessário saber o que a sociedade pensa e como ela vive. Seus possantes veículos importados de ar-refrigerado cerram a visão do urbano a ser administrado.

Nestas idas e vindas, sentado ao lado de um senhor de idade, começamos por trocar impressões acerca da mudança do clima na cidade, que para ele já não era mais o mesmo, sendo a variação ocorrida em um mesmo dia em Petrópolis muito assustadora. Principalmente para quem já possui impressionantes 92 anos.
A conversa seguiu e ele me informou que era petropolitano nato e havia possuído um só emprego em sua vida, ao qual devotara imensa fidelidade, ganhando em troca um salário de pensão. Ele fora componente da Guarda Municipal Petropolitana. Guarda esta criada em 1920. Um fato que o honrava muito, não somente por ter sido seu único emprego, mas por fazer parte da ordem pública de nossa sociedade em uma determinada época. Para muitas pessoas humildes como da época, uma espécie de “polícia”.

A instituição das guardas municipais no Brasil nos remete, ao final do século XIX, quando iniciam-se as preocupações com o policiamento de praças e jardins e das primeiras ocorrências urbanas pós migra-tórias. A guarda ou policia propriamente dita, ou "praças", não eram suficientes para o patrulhamento, e assim os municípios passam a observar na época da “belle époque” a necessidade de patrulhamento dos principais pontos de lazer ou do cotidiano da elite urbana.

A mais antiga guarda municipal do Brasil foi a da cidade de Recife criada em fevereiro de 1893, cha-mados "Guardas de Jardim". Quando da criação desta força, os guardas municipais não podiam pren-der ninguém, suas atividades eram limitadas. Quando ocorria um fato policial, os guardas deslocavam-se até a delegacia mais próxima para informar aos policiais (praças).

A guarda do Rio de Janeiro também foi criada ao final do século XIX, sua importância foi tamanha que um de seus componentes (1889/93) foi nada mais, nada menos que Augusto César Malta de Campos (1864/1957) o grande fotografo, que chegado das Alagoas ao Rio, não teve muita sorte como guarda-livros ou comerciante e integra a Guarda Municipal até que se torna em 1903 por contrato o primeiro fotografo oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Em Petrópolis o policiamento mais efetivo foi o dos "inspetores de quarteirão", praças habilitados a fazer o patrulhamento das principais vias, principalmente as do centro, das mansões, dos solares, onde residiam personalidades ou por onde ficavam sediadas as instituições consulares desde o veraneio do Imperador.

A guarda petropolitana, ao que parece era denominada de noturna, mas conhecida pela população como “praça municipal“, inclusive pelas referências nas noticias dos jornais locais (Centenário da TRIBUNA DE PETRÓPOLIS), foi criada na década de 20 na administração de Oscar Weinschenck e não diferindo das demais criadas no Brasil, executando o patrulhamento das praças e dos prédios públicos no centro da cidade, de auxilio aos moradores e não de “patrulhamento de camelodrômos” como hoje, considera-do por muitos haver sido criado no governo Gratacós.

“Seu” Djalma Conceição, morador humilde da rua Capitão Paladino, do alto de seus garbosos 92 anos, é um petropolitano que se confunde com a história. Memória de uma cidade, cujas instituições atuais negam-se a cumprir seu papel e consideram que lembrança é algo tão inútil que não dá voto.
Quantos "Djalmas", não “vivem” em seus depoimentos cotidianamente, sem crédito dos que os ouvem. Eles, são a lembrança testemunhal dos fatos e movimentos locais ocorridos no século XX, diante dos poucos que os escutam. Cumprem com galhardia a lembrança que o “espírito público” teima em não preservar.

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