A história oficial e tradicional de Petrópolis destaca o papel efetivo de um Barbosa, o mordomo imperial, aquele que junto com D. Pedro e Koeler constituíram a “santíssima trindade” da fundação. Marco primordial das origens da localidade.
Este Barbosa foi a bandeira do século XIX, das articulações diplomáticas, administrativas e políticas. Um amante da organização de uma cidade para seu “Rei”.
O outro Barbosa, nenhum traço de parentesco advinha, segundo palavras de Áurea Maria de Carvalho, que constituirá uma pequena biografia para tomar no Instituto Histórico de Petrópolis.
Estamos falando de Arthur Alves Barbosa, nascido em Niterói, em meados a segunda metade do século XIX, mas precisamente em 17/05/1863. Segundo Áurea Barbosa haveria estudado no Colégio Briggs onde teve um jornal manuscrito em parceria com o celebre pintor Antonio Parreiras.
Alguns já diriam que muito antes em sua infância teria estudado em Petrópolis.
Segundo Áurea Barbosa teria sido transferido pelos pais para o Colégio São Bento. E em 1883 seguiu para cursar a Faculdade de Direito, em São Paulo, onde foi companheiro de “república estudantil” de Alberto Torres, Raul Pompéia e Osório Duque Estrada. Ela ainda assinala que Barbosa teria abandonado os estudos no terceiro ano, já Jerônimo Ferreira Alves, afirma em artigo que Barbosa teria concluído, pois para ser nomeado na época como foi escriturário da Tesouraria da Fazenda Pública, seria necessária a formação, pois era um cargo de grande relevo.
Barbosa também pertenceu na época ao Clube Republicano de São Paulo, o que conseqüente-mente lhe traria grande prestigio político junto aos demais companheiros.
Casou-se, em 3 de junho de 1889, com Leonor Campos Barbosa, porém não tiveram filhos, o que conduziu dona Leonor a manter constantemente compromisso com a benemerência e assistência social enquanto seu marido foi diretor e redator de jornal em Petrópolis.
Em São Paulo, Barbosa colaborou nos jornais DIÁRIO POPULAR, CORREIO PAULISTANO, DIÁRIO MERCANTIL. E juntamente com Olavo Bilac fundou a revista ilustrada VIDA SEMANÁRIA.
Exonerou-se do cargo em São Paulo e retornou a Niterói. Sendo logo designado funcionário do Tribunal da Relação e transferindo-se logo depois para a Secretaria do Interior.
No governo fluminense de Alberto Torres, seu ex-companheiro de “república”, dirigiu a 3a seção da secretaria de Obras Públicas e Indústria.
Transferindo-se para Petrópolis reiniciou sua carreira na imprensa, mais precisamente na GAZETA DE PETRÓPOLIS, que foi sucessora de O MERCANTIL. Foi também correspondente dos jornais cariocas GAZETA DE NOTÍCIAS, do qual Bilac destacava-se como colunista e O PAIZ, de Bocaiúva.
Fundada a TRIBUNA DE PETRÓPOLIS, sobre os ossos de O POVO, em 9 de outubro de 1902, Barbosa iniciou sua colaboração no dia 23 do mesmo mês, mais precisamente no quinto número, e utilizava o pseudônimo de Carlos Ferraz, que o marcou consideravelmente em épocas de grande atrito político principalmente com o grupo do general Quintino que dominava a política fluminense.
A TRIBUNA DE PETRÓPOLIS pertencia a António Martins de Oliveira, um leiloeiro público, que era também integrante do grupo político de Hermogênio Pereira da Silva e, Artur Barbosa, foi um de seus redatores, transformando-se posteriormente em um dos grandes próceres políticos deste mesmo grupo na cidade.
Em 1° de dezembro de 1903, ano de grande turbulência política tendo Petrópolis ainda como sede do governo do Estado, Arthur, assumiu a direção exclusiva do semanário, embora a Tribuna pertencesse a uma associação formada pelo próprio Hermogênio Silva, Barros Franco, Horácio Magalhães e Sá Earp. Mas que finalmente a 18 de fevereiro de 1906 passou à propriedade pessoal de Barbosa.
Iniciou-se então uma tirânica batalha de Barbosa para elevar a TRIBUNA ao relevo político que haveria de marcá-la na História da Imprensa fluminense.
Em 1° e janeiro de 1908 a Tribuna ganha edições diárias; em 1910 passa a ser ilustrada com fotogravuras; e passo à passo, ganha as publicações oficiais do município, sem qualquer concorrência.
Sua presença como diretor e redator granjeou imensa responsabilidade e respeito em toda à cidade. E seus contatos com representantes da imprensa do Rio de Janeiro, conduziram Barbosa a articular a criação do Circulo da Imprensa em 1916 com a companhia de Roberto d’Escragnolle, Maia Forte, J. Figueiredo e J. Bicalho.
Foi eleito com expressão para a Câmara Municipal chegando a exercer sua presidência de fevereiro de l9l3 a abril de l9l6.
Em 1917, Barbosa envolvera-se em uma discussão política violenta na Câmara Municipal, quando Joaquim Moreira, que foi prefeito e chegou a Ministro de Estado, perdeu a calma e sacou de uma arma na tentativa de alvejar o próprio Barbosa, sendo desarmado por companheiros. Os resultados eleitorais alteravam os ânimos destes políticos oposicionistas.
Em 1918, assumiu por quase dois meses a Prefeitura, em uma época turbulenta de crise social e sanitária por que passava não somente a cidade como o país.
Em 1922, durante o governo de Arthur Bernardes, Barbosa, critico contumaz e oposicionista, tendo sido eleito deputado duas vezes, foi preso e impedido de manifestar-se tanto politicamente como profissionalmente. Da prisão, arrenda a Tribuna aos companheiros, Alcindo Sodré e Carlos Rizzini, que a dirigiram de 1923 a 1925, quando livre dos processos e liberto, reassume a propriedade e a direção, lutando pelo objetivo da constituição da sede própria do jornal.
A 1° de janeiro de 1929 a Tribuna de Petrópolis passou a funcionar em Sede própria, à Rua /Alencar Lima, onde está até hoje. O terreno pertencia a Artur Barbosa e o prédio foi projeto de Osório Magalhães Sales, sendo construído com o patrocínio do comércio e da indústria petropolitanos e principalmente com a colaboração da população e de profissionais como operários da Leopoldina, pedreiros, eletricistas que em uma empreitada comunitária ergueram o que denominavam “patrimônio da cidade”.
Artur Barbosa completou seus 50 anos de imprensa em 1938, sendo que por questões de saúde, que desde a prisão sempre esteve abalada, em 3 de julho de 1943 vendeu a Tribuna de Petrópolis a uma Sociedade.
Foi escritor, tendo como obras publicadas; Rosal (crônicas literárias) e Amores de Deodato e Madalena (novelas).
Faleceu em Petrópolis, em 24 de novembro de 1947, logo após participar de uma última cerimô-nia à frente da Tribuna com todos os profissionais que ali trabalhavam.
Pronta para completar 150 anos, nossa imprensa iniciada com Sudré, não poderia dispensar nomes como o do próprio Arthur, o outro Barbosa.
2 comentários:
Prezado professor:
Obrigada por esta referência ao Arthur Barbosa! Como ele dá nome à rua onde se situa a Casa que foi centro de torturas e extermínio da ditadura militar, a Casa da Morte de Petrópolis, estive em busca da figura que é o referido endereço deste imóvel e achei seu artigo. Que pena, logo ele, que me pareceu, pelos escritos, uma figura até revolucionária, nomear a pequena rua da casa da morte! Saudações!
Arthur Barbosa não teve filhos naturais com a minha bisavó Leonor. Mas adotaram o meu avô, Sylvio Barbosa Bentes.
Se puder acrescentar ao texto ficaria muito grata.
Gisela Barbosa Bentes
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